Revista Agrária Acadêmica
doi: 10.32406/v8n2/2025/1-14/agrariacad
Anestesia em cesarianas caninas e felinas – desafios e perspectivas. Anesthesia in canine and feline cesarean sections – challenges and perspectives.
Otávio Henrique de Melo Schiefler1
1- Doutorando em Clínica Médica e Cirúrgica no Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária (PPGMV) – Universidade Federal de Santa Maria – UFSM, Campus Santa Maria – RS. E-mail: vetotavio@gmail.com
Resumo
Cadelas e gatas gestantes apresentam alterações fisiológicas e metabólicas significativas que impactam a anestesia desses animais. A seleção e administração dos fármacos anestésicos requerem cautela, pois muitos ultrapassam a barreira placentária e podem causar depressão fetal. Durante a cesariana, seja eletiva ou distócica, os objetivos anestésicos são manter a estabilidade hemodinâmica, proporcionar analgesia de qualidade e garantir a viabilidade dos filhotes. Esta revisão aborda os principais cuidados no manejo anestésico e propõe o melhor protocolo anestésico para cesarianas em cadelas e gatas. Utilizando uma abordagem qualitativa, foram coletadas informações da literatura nacional e internacional dos últimos 20 anos, através de uma busca sistemática com descritores específicos. Os artigos selecionados fornecem embasamento para compreender os objetivos, riscos e particularidades da anestesia em cesarianas, fortalecendo a discussão dos cuidados e escolhas de protocolos dentro do contexto da anestesia obtétrica em cadelas e gatas.
Palavras-chave: Distocia. Anestesia multimodal. Barreira placentária. Parturiente. Depressão fetal.
Abstract
Pragnant bitches and queens exhibit significant physiological and metabolic alterations that impact the anesthesia of these animals. The selection and administration of anesthetic drugs must be carried out with caution, as many of these drugs cross the placental barrier and can cause fetal depression. During cesarean section, whether elective or dystocic, the primary anesthetic goals include maintaining hemodynamic stability, providing quality analgesia, and ensuring the viability of the offspring. This review addresses the main considerations in anesthetic management and proposes the best anesthetic protocol for cesarean sections in bitches and queens. Utilizing a qualitative approach, information was collected from national and international literature over the past 20 years through a systematic search using specific descriptors. The selected articles provide a foundation for understanding the objectives, risks, and particularities of anesthesia in cesarean sections, strengthening the discussion on care and protocol choices within the context of obstetric anesthesia in bitches and queens.
Keywords: Dystocia. Multimodal anesthesia. Placental barrier. Parturient. Fetal depression.
Introdução
Os procedimentos anestésicos associados à cesariana em caninos e felinos são uma ocorrência comum, podendo ser categorizados como urgentes ou emergenciais, quando há risco iminente à vida materna e sofrimento fetal, ou eletivos, também conhecidos como cesarianas programadas, que são planejadas e realizadas próximo ao início do trabalho de parto (PASCOE, MOON, 2001; CAIN, DAVIDSON, 2023).
Apesar da alta incidência em clínicas e hospitais veterinários, a literatura científica relacionada à anestesia em cadelas e gatas durante o trabalho de parto ainda é limitada, com estudos geralmente conduzidos de maneira retrospectiva (LUCIO et al., 2009; SCHIMIDT et al., 2021).
A administração de anestesia em animais sob estas condições apresenta desafios significativos devido às alterações fisiológicas e metabólicas induzidas pela gestação, que aumentam consideravelmente os riscos anestésicos (FOSSUM, 2023). Adicionalmente, a maioria dos agentes anestésicos utilizados rotineiramente atravessam facilmente a barreira placentária e podem causar algum grau de depressão fetal (CARREIRÃO, 2022). Portanto, a qualidade da anestesia tem um impacto direto no resultado da cesariana (CAIN, DAVIDSON, 2023).
O manejo perianestésico adequado da parturiente é uma etapa de extrema importãncia para garantir maior segurança, estabilidade cardiorrespiratória e analgesia suficiente para minimizar ou suprimir os estímulos nociceptivos da manipulação cirúrgica, além de garantir o mínimo de depressão fetal (CARREIRÃO, 2022). A estabilização pré-anestésica deve se realizada sempre que possível, especialmente nos casos de distocia, e a escolha do protocolo anestésico deve ser feita com cautela, levando em consideração a parturiente e os fetos (GRUBB, 2012).
Portanto, esta revisão tem como objetivo discutir os cuidados no manejo e estabelecer a escolha do protocolo anestésico mais adequado para cadelas e gatas submetidas a cesarianas eletivas e distócicas.
Desenvolvimento
Utilizando uma abordagem metodológica qualitativa, foram coletadas informações pertinentes ao manejo anestésico na obstetrícia de cadelas e gatas a partir de fontes de literatura nacional e internacional dos últimos 20 anos. A seleção dos artigos foi realizada através de uma busca sistemática em bases de dados reconhecidas, incluindo PubMed, Elsevier, Wiley Online Library, ScienceDirect e SciELO. Os descritores utilizados para a busca foram: “Canine and Feline Parturient Anesthesia”, “Dystocia in Dogs and Cats”, “Anesthetic Complications in Dystocia of Dogs and Cats”, “Perianesthetic Fetal Depression in Dogs and Cats”.
Os artigos científicos selecionados foram incorporados com o intuito de fornecer suporte aos principais tópicos relacionados ao tema em questão. Estes tópicos incluem: os objetivos da anestesia em cesarianas, os riscos anestésicos e as particularidades fisiológicas das parturientes, os riscos anestésicos para os filhotes e o embasamento para a escolha do protocolo anestésico. A inclusão desses artigos visa fortalecer a compreensão e a discussão desses tópicos dentro do contexto da anestesia obstétrica em cadelas e gatas.
Objetivos da anestesia em cesarianas
Durante a realização de um procedimento cesariano, a técnica anestésica implementada e a seleção de agentes anestésicos devem ser direcionadas para proporcionar condições ótimas para a parturiente e os fetos (RUIZ et al., 2016). No entanto, é importante notar que a maioria dos anestésicos gerais têm a capacidade de atravessar a barreira placentária e a barreira hematoencefálica fetal, o que pode resultar em complicações neurológicas, cardiorrespiratórias e depressão fetal, potencialmente levando a uma baixa taxa de sobrevivência (DOEBELI et al., 2013; CAIN, DAVIDSON, 2023).
A determinação da técnica e do protocolo anestésico mais apropriados é dependente de uma variedade de fatores fisiológicos, metabólicos e hemodinâmicos presentes na parturiente, particularmente em casos de distocia, bem como a viabilidade fetal no momento da avaliação (CARREIRÃO, 2022). Em geral, a preferência é dada à utilização de baixas doses de anestésicos gerais (tanto injetáveis quanto inalatórios) para a manutenção da anestesia até a remoção dos filhotes, e evita-se o uso de medicamentos como a cetamina e os benzodiazepínicos, que estão associados a uma maior depressão fetal (TRAAS, 2008; LOPATE, 2018; VILAR et al., 2018).
É uma ocorrência frequente que felinas e, em particular, caninas sejam admitidas em serviços de atendimento veterinário apresentando sinais de sofrimento fetal devido a um parto prolongado (AARNES, MURDOCK, 2021). Nesse contexto, a parturiente pode manifestar complicações que incluem exaustão extrema, desidratação resultando em hipovolemia, desequilíbrio hidroeletrolítico, hipoglicemia, dor e mortalidade fetal ou toxemia, sendo, portanto, classificada como um paciente anestésico de alto risco (MOON et al., 2000; SCHMIDT et al., 2021; FOSSUM, 2023).
O objetivo primordial na administração de anestesia para cesariana é assegurar a segurança e o conforto da mãe, com estabilização pré-operatória quando necessário, além de proporcionar relaxamento muscular adequado, analgesia eficaz, redução da ansiedade e recuperação anestésica rápida da fêmea para promover o comportamento materno (DE CRAMER et al., 2016). Adicionalmente, minimizar os riscos de complicações hemodinâmicas e priorizar medicamentos que causem o mínimo de depressão nos fetos são fatores determinantes para o sucesso do procedimento (CAIN, DAVIDSON, 2023).
Riscos anestésicos e particularidades na fisiologia das parturientes
As modificações anatômicas e fisiológicas que ocorrem na parturiente ao final da gestação têm um impacto direto na sua interação com a anestesia e o procedimento cirúrgico de cesariana. Mesmo quando a cesariana é eletiva, essas alterações tornam a parturiente propensa a complicações cardiovasculares e respiratórias (DOEBELI et al., 2013).
Estudos indicam que entre 60 e 80% das cesarianas realizadas em caninas e felinas são decorrentes de distocia (SMITH, 2012; VILAR et al., 2018). Adicionalmente, foi observado que animais que necessitam de cesariana apresentam uma maior incidência de complicações anestésicas e mortalidade neonatal (TRAAS, 2008; CORNELIUS et al., 2019). O risco de mortalidade anestésica durante cesarianas em caninas e felinas é de 1,2%, um valor significativamente superior ao risco anestésico geral para essas espécies, que é de 0,05% e 0,11%, respectivamente (MATTHEWS et al., 2017; PROCTOR-BROWN et al., 2019; SCHMIDT et al., 2021).
O período gestacional induz significativas adaptações fisiológicas e anatômicas na fêmea, as quais estão associadas ao incremento da demanda metabólica decorrente do aumento do volume abdominal, resultante do crescimento fetal e uterino (AARNES, MURDOCK., 2021). Os sistemas orgânicos primordiais adaptam-se a essa condição, com destaque para os sistemas cardiovascular e respiratório, os quais impactam diretamente na hemodinâmica materna com o intuito de assegurar uma maior vascularização na região uterina e otimizar sua perfusão, permitindo assim o desenvolvimento fetal adequado (BERGSTRÖM et al., 2006; ALMEIDA et al., 2017).
A circulação uteroplacentária desempenha um papel crucial na homeostase fetal e na sobrevivência neonatal (RYAN, WAGNER, 2006; ALMEIDA et al., 2017). Qualquer alteração cardiovascular que resulte em uma diminuição do débito cardíaco e, consequentemente, em uma menor oferta de oxigênio, terá um impacto negativo imediato no feto, uma vez que o fluxo sanguíneo fetal é incapaz de se autorregular (DE CRAMER et al., 2016).
O aumento do tônus uterino, causado pela liberação sistêmica de catecolaminas devido à atividade simpática durante situações de medo, ansiedade, dor e manipulação inadequada no pré-operatório, deve ser evitado, sempre que possível, pois alterações significativas na circulação uteroplacentária podem resultar em efeitos adversos ao feto (ROBERTSON, 2016).
As fêmeas gestantes apresentam menor capacidade de controlar a pressão arterial e responder autonomicamente a uma hipotensão arterial, mesmo que leve, através da vasoconstrição periférica (ROBERTSON, 2016). Isso ocorre devido ao aumento da complacência vascular e diminuição da resistência vascular causado pela gestação, juntamente com a baixa atividade da vasopressina, impedindo a atividade barorreceptora e impossibilitando a contração da vasculatura periférica (TAN, TAN, 2013; ALMEIDA et al., 2017).
A vasodilatação induzida por agentes anestésicos, juntamente com estados de desidratação e perdas volêmicas no transoperatório, pode predispor a uma hipotensão arterial materna durante a cesariana (FOSSUM, 2023). Esta hipotensão pode resultar em uma diminuição do fluxo sanguíneo uterino, potencialmente contribuindo para uma redução da viabilidade fetal (SILVA et al., 2021).
O posicionamento de cadelas e gatas gestantes em decúbito dorsal para o procedimento cirúrgico requer uma atenção especial, devido às significativas alterações cardiovasculares e respiratórias que podem ocorrer (ROBERTSON, 2016). A compressão intra-abdominal da veia cava caudal e da artéria aorta pode resultar em uma redução do retorno venoso (pré-carga), levando a uma queda significativa do débito cardíaco e do fluxo sanguíneo para o útero e fetos (TAN, TAN, 2013). Portanto, recomenda-se minimizar o tempo em que a parturiente permanece em decúbito dorsal antes do início do procedimento cirúrgico (ROBERTSON, 2016).
O desenvolvimento uterino ao longo da gestação pode causar compressão mecânica de várias estruturas abdominais, em particular, o músculo diafragmático (SILVA et al., 2021). O posicionamento em decúbito dorsal pode deslocar as vísceras abdominais em direção cranial e agravar a compressão diafragmática, reduzindo a complacência pulmonar e sua capacidade residual funcional de maneira significativa (ALMEIDA et al., 2017). Como resultado, esses animais têm uma alta predisposição ao desenvolvimento de atelectasia, hipoxemia e hipercapnia durante o procedimento (ROBERTSON, 2016).
A utilização de ventilação positiva controlada mecanicamente é fortemente recomendada para um controle adequado dos níveis de dióxido de carbono (EtCO2) e saturação de oxigênio (SpO2), além de prevenir a fadiga muscular (SILVA et al., 2021). A elevação da cabeça em relação ao restante do corpo pode minimizar a compressão diafragmática e melhorar a ventilação (ROBERTSON, 2016). A pré-oxigenação com máscara facial (100 ml/kg/min) por 3 a 5 minutos pode proporcionar induções anestésicas mais seguras e com menores chances de dessaturação (McNALLY et al., 2009).
A compressão mecânica das vísceras abdominais e os efeitos hormonais induzidos pela gestação podem predispor a refluxos gastroesofágicos, vômitos ou regurgitações, representando um risco potencial de aspiração no momento da indução anestésica e no pós-operatório imediato. A pneumonia aspirativa é bem documentada em mulheres submetidas à cesariana, portanto, a administração de antieméticos e antiácidos é recomendada, além da intubação orotraqueal obrigatória para proteção das vias aéreas (ROBERTON, 2016).
Riscos anestésicos para os filhotes
A mortalidade neonatal em cadelas e gatas é um fenômeno comum, com taxas superiores a 10% mesmo em partos naturais (VERONESI, 2016). Essa taxa pode aumentar para 20-40% nas primeiras quatro semanas de vida, considerando tanto a natimortalidade quanto a mortalidade neonatal (FOURNIER et al., 2017; MUGNIER et al., 2020; VERONESI, FUSI, 2023).
Em partos realizados por cesariana, com a devida atenção aos cuidados anestésicos e cirúrgicos, a taxa de mortalidade é menor, cerca de 8% imediatamente após a cesariana, 13% duas horas após o nascimento e 20% após uma semana (MOON et al., 2000; SCHMIDT et al., 2021). No entanto, a sobrevida neonatal em cesarianas de emergência é cerca de um terço daquela observada em cesarianas eletivas (MOON et al., 2000; GRUNDY, 2006), com cães e gatos apresentando três vezes mais chances de mortalidade neonatal em comparação com cesarianas eletivas (PROCTOR-BROWN et al., 2019).
A sobrevivência de cães e gatos recém-nascidos depende de vários fatores além das características do parto, incluindo genética, estado de saúde materna, condições ambientais, desenvolvimento fetal, viabilidade ao nascer, maturação dos sistemas vitais, cuidados maternos após o nascimento e a rapidez do processo de adaptação neonatal à vida extrauterina (VERONESI, FUSI, 2023).
No entanto, alguns fatores anestésicos estão associados a uma maior mortalidade e devem ser considerados, incluindo a escolha dos fármacos anestésicos, o tempo de preparação da parturiente para o procedimento cirúrgico, o tempo entre a indução anestésica e a retirada dos filhotes e o tempo entre o início do procedimento e a extubação (RUIZ et al., 2016).
De acordo com Schmidt et al. (2021), quando o tempo entre a indução anestésica e o início do procedimento cirúrgico é de até 15 minutos, a sobrevivência neonatal é favorecida, enquanto períodos superiores a 30 minutos se mostram menos favoráveis. No estudo de Proctor-Brown et al. (2019), observou-se que o tempo entre a indução anestésica e a extubação de menos de 45 minutos está associado a maiores chances de todos os filhotes nascerem vivos e de menos de 35 minutos para todos os filhotes permanecerem vivos até o sétimo dia.
Por outro lado, um período menor que 10 minutos entre a indução e a retirada dos filhotes não resultou em melhora na sobrevida neonatal (MOON et al., 2000). Procedimentos cirúrgicos superiores a 80 minutos resultaram em um aumento de 3 vezes no risco de mortalidade neonatal, enquanto anestesias superiores a duas horas resultaram em um risco 6,7 vezes maior (PROCTOR-BROWN et al., 2019; SCHMIDT et al., 2021).
Em distocias de emergência, tempos anestésicos superiores a 50 minutos e tempos cirúrgicos superiores a 15 minutos estão associados a uma maior mortalidade anestésica (DOEBELI et al., 2013; RUIZ et al., 2016).
Com relação ao uso de anestésicos, observou-se uma maior mortalidade dos filhotes com a utilização de cetamina em doses altas associada a xilazina (LUNA et al., 2004; DE CRAMER et al., 2016). Uma maior depressão respiratória e menor viabilidade também foram observadas com a associação de cetamina e midazolam ou diazepam (SMITH, 2012; DOEBELI et al., 2013).
Segundo Schmidt et al. (2021), protocolos utilizando propofol e isoflurano com um tempo de espera de 20 minutos entre a indução e a remoção dos filhotes resultaram em maior vitalidade e menor mortalidade em comparação com protocolos dissociativos.
De acordo com Veronesi (2016), o índice de APGAR score é um método simples e prático de avaliação da viabilidade do filhote após o nascimento. Aqueles que obtêm uma pontuação entre 7 e 10 apresentam viabilidade normal. No entanto, pontuações entre 4 e 6 indicam neonatos que necessitam de cuidados especiais, enquanto pontuações entre 0 e 3 são considerados críticos e necessitam de cuidados emergenciais e intensivos após o nascimento.
As melhores taxas de sobrevivência de filhotes recém-nascidos até o sétimo dia são observadas naqueles que se movimentam espontaneamente imediatamente após o nascimento (AARNES, MURDOCK, 2021). Todos os filhotes que vocalizam ao nascer apresentam respiração espontânea e estão associados a maiores chances de sobrevivência (GRUDY et al., 2006). No entanto, tempos superiores a 2 minutos para respiração espontânea estão associados a uma maior mortalidade após o nascimento (BATISTA et al., 2014; VERONESI, 2016).
Após o nascimento, as principais condições que dificultam a sobrevivência são asfixia, acidose, desequilíbrio glicêmico e hipotermia. No período neonatal, a hipoglicemia, hipotermia, desidratação e a suscetibilidade a infecções por falha na transferência imune passiva são os principais responsáveis pela mortalidade e compõem a tríade do neonato (VERONESI, FUSI, 2023).
Protocolos anestésicos
A seleção de fármacos para o protocolo anestésico em cadelas e gatas submetidas à cesariana é fundamentada na mitigação da ansiedade e desconforto materno, com o objetivo de facilitar a indução anestésica, diminuir a necessidade de anestésicos gerais, minimizar a probabilidade de complicações anestésicas e assegurar uma recuperação materna rápida e suave (CAIN, DAVIDSON, 2023).
No entanto, nem todos os fármacos anestésicos garantem a segurança fetal, pois podem causar depressão respiratória, cardiovascular e neurológica significativa após o nascimento. Portanto, alguns são contraindicados e outros são recomendados para uso com cautela em doses baixas (AARNES, MURDOCK, 2021).
Em geral, os fármacos anestésicos possuem alta lipossolubilidade, permitindo que atravessem facilmente a barreira placentária e atinjam a circulação fetal (PASCOE, MOON, 2001). No entanto, durante a fase fetal e neonatal, a capacidade de metabolização de drogas é extremamente ineficiente (THIGPEN et al., 2019), resultando em altas concentrações plasmáticas dos anestésicos no filhote após o nascimento. Isso torna o filhote incapaz de depurar e eliminar esses anestésicos, resultando em sedação profunda, depressão cardiorrespiratória significativa e maior mortalidade (VERONESI, 2016; ROBERTSON, 2016).
A escolha do protocolo anestésico mais adequado deve ser criteriosa, levando em consideração o estado de saúde materno, a viabilidade e o sofrimento fetal. Deve-se priorizar anestésicos com rápida metabolização, rápida eliminação e que possam ser revertidos (ROBERTSON, 2016; AARNES, MURDOCK, 2021). Para cesarianas, recomenda-se sedação mínima, indução com anestésicos de rápida eliminação, seguida de manutenção com baixas taxas de anestésicos inalatórios ou infusões, e analgesia transanestésica por meio de infusões e bloqueios locorregionais, quando possível (PASCOE, MOON, 2001; RYAN, WAGNER, 2006).
Medicação pré-anestésica
Vários protocolos anestésicos destinados à cesariana em cadelas e gatas sugerem a evitação de qualquer sedativo ou analgésico antes da remoção de todos os filhotes (CAIN, DAVIDSON, 2023). Contudo, está bem estabelecido que a administração de fármacos sedativos ou analgésicos pré-anestésicos pode aliviar o estresse materno e reduzir a necessidade de anestésicos gerais, tanto na indução quanto na manutenção do estado de hipnose (VILAR et al., 2018).
Nesses casos, é possível otimizar a recuperação da mãe e melhorar a recuperação do recém-nascido (ROBERTSON, 2016). No entanto, em cadelas e gatas debilitadas e em distocia, a medicação pré-anestésica com fármacos sedativos pode ser contraindicada, priorizando sua utilização apenas naqueles casos de extrema ansiedade ou agressividade (CAIN, DAVIDSON, 2023).
O uso de opioides pré-anestésicos em cesarianas é frequentemente evitado por muitos anestesiologistas veterinários devido à depressão respiratória neonatal. No entanto, vários estudos demonstraram que é possível utilizar esses fármacos de maneira segura, com mínima ou nenhuma depressão fetal após o nascimento, sendo fármacos importantes para a analgesia perioperatória materna, redução dos efeitos hipotensores e requerimento anestésico de agentes inalatórios (RYAN, WAGNER, 2006; SCHMIDT et al., 2021).
De acordo com o estudo de Romagnoli et al. (2019), o uso de metadona na dose de 0,3 mg/kg por via intramuscular e 0,1 mg/kg por via epidural resultou em pouca depressão respiratória, mantendo pontuações de APGAR score altas após o nascimento, sendo factível sua utilização em procedimentos de cesariana. O estudo de Plavec et al. (2022) demonstrou que a metadona na dose de 0,2 mg/kg é uma opção viável, com pouca depressão materna e neonatal. Olivia et al. (2018) e Vilar et al. (2018) descrevem que a utilização da morfina na dose entre 0,1 e 0,3 mg/kg por via intravenosa para cesarianas de cadelas e gatas devido à sua baixa solubilidade lipídica e maior dificuldade em ultrapassar a barreira placentária.
O fentanil, no entanto, por ser altamente lipossolúvel, possui alta transferência placentária e normalmente recomenda-se evitar sua utilização até que todos os filhotes tenham sido removidos (SCHMIDT et al., 2021). A buprenorfina e o butorfanol, por serem agonista parcial e agonista-antagonista, respectivamente, apresentam transferência placentária relativamente baixa, sendo opção principalmente em felinos (CAIN, DAVIDSON, 2023).
O remifentanil, por sua vez, demonstra-se uma excelente opção para analgesia transoperatória materna devido à sua rápida metabolização por esterases sanguíneas, ausência de efeito cumulativo e independência do sistema hepático, afetando minimamente o vigor neonatal (HILL, 2008; SCHMIDT et al., 2021). O sufentanil, por outro lado, apresenta alta ligação à alfa-1 glicoproteína ácida que nos neonatos sua concentração é baixa e, portanto, pode ter sua eliminação prolongada com maior fração livre na circulação, sendo associado a maior depressão fetal após o nascimento (THIGPEN et al., 2019).
É importante ressaltar que todos os opioides podem causar depressão respiratória tanto para a parturiente quanto para os filhotes. Por isso, a monitoração desses parâmetros deve ser constante e não pode ser negligenciada (CAIN, DAVIDSON, 2023). Quando identificada lentidão ou ausência de respiração espontânea nos recém-nascidos, a naloxona pode ser administrada como agente de reversão na dose de 0,002 a 0,02 mg/kg por via intramuscular ou subcutânea, com a opção de administração de uma gota (aproximadamente 0,1 mL) de solução sublingual de 1 mg/mL (WAHLER et al., 2019; SCHMIDT et al., 2021).
O uso de acepromazina (fenotiazínicos) e diazepam ou midazolam (benzodiazepínicos) não é recomendado para cesariana por provocarem sedação prolongada nos filhotes recém-nascidos e, consequentemente, menor vitalidade e ausência de movimentos respiratórios (PASCOE, MOON, 2021; CAIN, DAVIDSON, 2023).
Evidências encontradas no estudo de Groppetti et al. (2019) demonstram que o uso da dexmedetomidina, na dose de 2 µg/kg por via intravenosa, é seguro, analgésico e efetivo para cesariana eletiva de cães, proporcionando bem-estar materno pré e pós-operatório. Além disso, houve redução considerável da dose de propofol utilizada para indução, sem efeitos adversos na recuperação do recém-nascido, demonstrando que a barreira placentária impediu a transmissão efetiva de dexmedetomidina.
Apesar da dexmedetomidina apresentar segurança pela lenta passagem pela barreira placentária com efeitos mínimos nos fetos, sua administração por via intravenosa deve ser lenta e em doses baixas para não promover redução importante da perfusão uterina e, consequentemente, sofrimento fetal por hipoxemia (DE CRAMER et al., 2016). A xilazina está associada a maior mortalidade neonatal e, por isso, é contraindicada em cesarianas (DE CRAMER et al., 2016).
A reversão da dexmedetomidina pode ser considerada com atipamezole 20 a 50 µg/filhote subcutâneo ou sublingual, embora Groppetti et al. (2019) tenham relatado que isso não seja necessário. A reversão materna, se necessário para recuperação, pode ser obtida com atipamezole na dose de 10 a 20 µg/kg subcutâneo ou intramuscular, porém, o efeito analgésico também será removido (CAIN, DAVIDSON, 2013).
Indução anestésica
A indução anestésica em cadelas e gatas gestantes deve ser realizada com cautela, uma vez que todos os anestésicos gerais atravessam a barreira placentária e atingem o feto. Portanto, é recomendado priorizar doses baixas e associá-las a co-indutores quando possível (PASCOE, MOON, 2001). A escolha do indutor mais adequado baseia-se em fármacos com rápida distribuição e redistribuição da concentração plasmática, permitindo que, ao atingirem a circulação fetal, retornem rapidamente para a circulação materna para metabolização e eliminação (SCHMIDT et al., 2021).
O propofol é o principal agente indutor e é amplamente recomendado para cesarianas, pois permite uma indução rápida e uma intubação orotraqueal fácil. A dose recomendada é de 2 a 6 mg/kg, administrada por via intravenosa de forma titulada até obter o efeito desejado. Além disso, o propofol proporciona uma recuperação suave e um rápido retorno à consciência (AARNES, MURDOCK, 2021). O propofol também possui uma meia-vida curta, com sua concentração plasmática sendo rapidamente redistribuída da circulação materna para outros tecidos e metabolizada tanto hepática quanto extra-hepaticamente (CAIN, DAVIDSON, 2023).
Ademais, devido a essas características farmacocinéticas e farmacodinâmicas, o propofol é rapidamente eliminado da circulação fetal por redistribuição e não causa efeito cumulativo com doses repetidas (AARNES, MURDOCK, 2021). Para garantir que pouco propofol residual ainda esteja na circulação fetal e ocorra uma redistribuição adequada, recomenda-se que, após a indução anestésica materna, haja um intervalo de 15 a 20 minutos antes da remoção do feto (RYAN, WAGNER, 2006; SCHMIDT et al., 2021). Os escores de APGAR dos filhotes melhoraram 30 minutos após a indução com propofol associado à dexmedetomidina (GROPPETTI et al., 2019).
O uso de cetamina e barbitúricos para indução anestésica em cesarianas é contraindicado devido à associação com maior depressão neurológica neonatal (LUNA et al., 2004). A indução com agentes inalatórios através de máscaras ou caixas também não é recomendada, principalmente em felinos, devido ao estresse e à liberação de catecolaminas, altas concentrações plasmáticas do anestésico resultando em depressão cardiovascular e hipotensão que podem prejudicar severamente o fluxo sanguíneo uterino e a viabilidade dos filhotes, especialmente aqueles em sofrimento fetal (RYAN, WAGNER, 2006; CAIN, DAVIDSON, 2023).
Manutenção anestésica
A anestesia inalatória, utilizando isoflurano ou sevoflurano, é recomendada para a manutenção anestésica em cadelas e gatas gestantes, devido à sua rápida eliminação pulmonar, mínima metabolização hepática e ausência de efeitos cumulativos (VILAR et al., 2018). Concentrações baixas de anestésicos inalatórios são preferíveis, pois tendem a preservar o fluxo sanguíneo uterino e não comprometer a viabilidade fetal (MOON et al., 2000). Em geral, cadelas e gatas gestantes requerem uma concentração alveolar mínima (CAM) menor do que os animais não gestantes, com uma redução de até 40% devido à gravidez (SCHMIDT et al., 2021; CAIN, DAVIDSON, 2023).
No entanto, altas taxas de anestésicos inalatórios devem ser evitadas, especialmente em vaporizadores universais, pois níveis acima de duas vezes a CAM estão associados à redução da perfusão uterina e hipotensão arterial materna, podendo resultar em mortalidade fetal (AARNES, MURDOCK, 2021). O grau de depressão do recém-nascido está diretamente correlacionado com a profundidade anestésica materna (CAIN, DAVIDSON, 2023).
Em procedimentos de cesariana curtos, de até 30 minutos, a infusão contínua de propofol para manutenção anestésica tem se mostrado eficaz, onde não são encontradas concentrações clinicamente relevantes de propofol no sangue dos filhotes, não havendo diminuição ou prejuízo de vitalidade. No entanto, infusões acima de 30 minutos entre a indução e a retirada dos filhotes foram relacionadas a uma menor vitalidade dos fetos no nascimento (SUAREZ et al., 2012; RUIZ et al., 2016; VILAR et al., 2018).
Analgesia transoperatória
A analgesia transoperatória pode ser administrada por via intravenosa ou por bloqueio peridural (LUNA et al., 2004). A analgesia intravenosa sistêmica geralmente se baseia na infusão contínua de remifentanil até a retirada dos filhotes, podendo ser complementada posteriormente com lidocaína, dexmedetomidina e cetamina (VILAR et al., 2018). A taxa de infusão recomendada varia de 10 a 20 µg/kg/h, sem a necessidade de um bolus inicial (SCHMIDT et al., 2021).
A analgesia regional peridural lombo-sacra em cadelas e sacrococcígea em gatas é uma opção viável, contudo, sua implementação não deve atrasar o início do procedimento cirúrgico (ROBERTSON, 2016). O volume de administração deve ser calculado preferencialmente com base no comprimento da coluna, com um volume de 0,1 ml/cm (levando em consideração o comprimento da coluna entre o occipital e a primeira vértebra coccígea) ou para o peso ideal do paciente com volumes de 0,2 e 0,3 ml/kg (MARTIN-FLORES et al., 2019). Lidocaína e bupivacaína são os anestésicos locais mais utilizados (VILAR et al., 2018).
Outros bloqueios analgésicos, como o TAP block ou o quadrado lombar, guiados por ultrassonografia, devem ser reservados para o período pós-operatório imediato e destinados ao conforto pós-operatório. A distensão abdominal pode comprometer a segurança de sua execução e não contribui para a analgesia da parede uterina (PLAVEC et al., 2022).
Outras preocupações perianestésicas
A administração de suporte hídrico intraoperatório é imperativa, especialmente em fêmeas debilitadas em distocia. A solução de ringer com lactato é comumente recomendada, com uma taxa de infusão de 3 a 10 ml/kg/h em cadelas e 2 a 6 ml/kg/h em gatas (CAIN, DAVIDSON, 2023).
Episódios de hipotensão arterial durante o procedimento não são raros e devem ser prontamente identificados e corrigidos quando a pressão arterial média (PAM) for inferior a 65 mmHg. A terapia vasopressora com efedrina (0,05 a 0,2 mg/kg intravenoso) em bolus ou infusão contínua de norepinefrina (0,1 a 1 µg/kg/min), associada à reposição volêmica, deve ser empregada para a correção da hipotensão sem comprometer o fluxo sanguíneo uterino (ROBERTSON, 2016).
A prevenção de refluxo, regurgitação e aspiração, particularmente em raças braquicefálicas, pode ser alcançada através da administração de maropitant 30 a 60 minutos antes da cesariana, na dose de 1 mg/kg por via subcutânea (BOSCAN et al., 2011). O maropitant também oferece benefícios adicionais, como a redução da CAM de anestésicos inalatórios e o fornecimento de analgesia visceral (NIYOM et al., 2013). A ondansetrona é uma alternativa viável, especialmente em distocias de emergência, devido ao seu curto período de latência, em torno de 5 a 15 minutos, na dose de 0,5 a 1 mg/kg por via intravenosa ou intramuscular (ROBERTSON, 2016).
Controle da dor pós-operatória materna
A administração de anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) pode ser iniciada por via parenteral após o parto e, subsequentemente, mantida para o controle da dor domiciliar por um período de 24 a 48 horas. Recentemente, o grapiprant tem demonstrado eficácia no controle da dor pós-operatória, sendo considerado uma alternativa viável (CAIN, DAVIDSON, 2023). No entanto, são necessários mais estudos para validar sua segurança após cesarianas em cadelas e gatas.
O uso de tramadol como agente único para o controle da dor pós-operatória não é recomendado em cães, devido à baixa produção do metabólito 1 e à sua rápida metabolização. Como alternativa em cães, sugere-se a associação do tramadol com a dipirona na dosagem de 25 mg/kg. Para felinos, recomenda-se a administração de doses baixas de tramadol, entre 0,5 e 1 mg/kg (CAIN, DAVIDSON, 2023).
Considerações finais
A administração de anestesia em cadelas e gatas gestantes exige uma atenção especial por parte do anestesiologista veterinário, com o objetivo de minimizar o impacto hemodinâmico e os riscos associados à anestesia tanto para a mãe quanto para os filhotes. A prioridade reside em assegurar conforto, atenuar a ansiedade e inibir a nocicepção resultante da manipulação cirúrgica, sem induzir depressão respiratória e neurológica fetal, visando maximizar a sobrevida pós-natal.
Conflitos de interesse
Não houve conflito de interesses.
Contribuição do autor
Otávio Henrique de Melo Schiefler – ideia original, leitura e interpretação das obras e escrita, correções e revisão do texto.
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Recebido em 23 de abril de 2024
Retornado para ajustes em 30 de janeiro de 2025
Recebido com ajustes em 31 de janeiro de 2025
Aceito em 10 de março de 2025
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