Revista Agrária Acadêmica
doi: 10.32406/v8n2/2025/15-23/agrariacad
Ação de extensão universitária na disciplina de Forragicultura – diagnóstico local e intervenção sobre a utilização de plantas forrageiras na pecuária urbana. University extension action in the discipline of Forage Farming – local diagnosis and intervention on the use of forage plants in urban livestock farming.
Juliana Karla Quirino Ramalho1, Anuska Alves Coutinho Lins
1, Beatriz Cantalice de Melo
1, Jacyara de Souza Fernandes
1, Janine Miranda de Oliveira Tillmann
1, Luís Fábio Barbosa Botelho
1, Sara Morais Pordeus
1, Henrique Melo de Oliveira2, Maíza Araújo Cordão
3, Sebastião André Barbosa Junior
3*
1- Discente do Curso de Medicina Veterinária – Centro Universitário UNIESP – Cabedelo/PB – Brasil. E-mails: julianaquirino410@gmail.com, anuska.coutinho@hotmail.com, biacantalice07@gmail.com, jacyara.vetjp@gmail.com, janinetillmannmedvet@gmail.com, fabinhobot@hotmail.com, sarapordeus89@gmail.com
2- Graduação em Zootecnia – Universidade Federal da Paraíba – UFPB – Campus Areia/PB – Brasil. E-mail: henriquedeflavio@gmail.com
3- Docente do Curso de Medicina Veterinária – Centro Universitário UNIESP – Cabedelo/PB – Brasil. E-mail: maizacordao@hotmail.com, sebastiaoandre.ater@gmail.com
Resumo
Objetivou-se com o presente relato, descrever e refletir sobre uma experiência de extensão universitária na disciplina de Forragicultura e Plantas Nativas realizada em uma pecuária urbana no município de Cabedelo-PB. A ação de extensão foi desenvolvida em duas etapas: a primeira de diagnóstico local e a segunda de intervenção. O diagnóstico local foi realizado através de uma visita, na qual foi verificado que o criador mora e trabalha com sua esposa, tendo como principal atividade a bovinocultura de leite. O sistema de criação desenvolvida na prorpiedade foi o intensivo, principalmente por limitação do espaço na propriedade e falta de local para os animais pastarem.Na propriedade tem plantações de quatro cultivares do capim elefante, sendo eles: Roxo, BRS Capiaçu, Mineirão e Gramafonte, e o criador também utiliza alguns resíduos orgânicos para alimentar seus animais. Foi verificado a realização da escrituração zootécnica a partir de anotações em um caderno, sobre a produção de leite, montas controladas e nascimento de todos os animais. O criador relatou que não tem acesso a asistência técnica ou a acompanhamento da defesa agropecuária. A intervenção foi realizada através da produção de um vídeo de uma entrevista com um profissional zootecnista, no qual foram abordados os principais aspectos do diagnóstico local. Na entrevista foi dada ênfase a utilização do cultivar BRS capiaçu, por ser uma planta de maior produção, sendo indicada para o contexto urbano e com pouco espaço. Também foi sugerido a implantação de leguminosas, a gliricídia e a moringa. Conclui-se que a pecuária urbana sofre impactos com a urbanização e o manejo alimentar é prejudicado. O diálogo e as informações construídos com a visita e apresentação do vídeo ao criador foram importantes para melhorias na criação.
Palavras-chave: Agricultura Familiar. Curricularização da Extensão. Bovinocultura Urbana.
Abstract
The objective of this report was to describe and reflect on a university extension experience in the discipline of Forage Culture and Native Plants carried out in an urban livestock farm in the municipality of Cabedelo-PB. The extension action was developed in two stages: the first was a local diagnosis and the second was an intervention. The local diagnosis was carried out through a visit, in which it was verified that the breeder lives and works with his wife, and that their main activity is dairy cattle farming. The breeding system developed on the property was intensive, mainly due to the limitation of space on the property and the lack of place for the animals to graze. The property has plantations of four cultivars of elephant grass, namely: Roxo, BRS Capiaçu, Mineirão and Gramafonte, and the breeder also uses some organic waste to feed his animals. It was verified that zootechnical records were carried out based on notes in a notebook, on milk production, controlled matings and birth of all animals. The breeder reported that he does not have access to technical assistance or monitoring by the agricultural defense. The intervention was carried out through the production of a video of an interview with a professional zootechnician, in which the main aspects of the local diagnosis were addressed. The interview emphasized the use of the BRS capiaçu cultivar, as it is a plant with greater production and is suitable for urban contexts with limited space. The implementation of legumes, gliricidia and moringa, was also suggested. It was concluded that urban livestock farming is impacted by urbanization and that food management is impaired. The dialogue and information constructed through the visit and presentation of the video to the breeder were important for improvements in livestock farming.
Keywords: Family Farming. Extension Curriculum. Urban Cattle Farming.
Introdução
A pecuária urbana se caracteriza em criações de animais agrícolas em perímetros urbanos, muito próximos a bairros popularizados, cenário observado em grandes centros, devido ao crescimento acelerados de novos bairros e verticalização dentro das grandes cidades. No entanto, alguns dos desafios da pecuária urbana em João Pessoa-PB e cidades vizinhas vem sendo acompanhados há alguns anos em ações de extensão universitária e recentemente atividades de pesquisa. Problemas sociais, escassez de políticas públicas, problemas sanitários e produtivos com os animais, além de problemas de saúde pública e saúde ambiental estão sendo observados. Mas também existem potencialidades a serem fortalecidas como oferta de produtos de origem animal para a população, geração de trabalho, geração de renda e auxílio para a segurança alimentar para os criadores e suas famílias. O desafio aqui em questão foi o da utilização de plantas forrageiras para a alimentação animal na pecuária urbana. Foi esta situação que instigou o desenvolvimento das atividades de curricularização da extensão universitária na disciplina de Forragicultura e Plantas Nativas.
Historicamente os primeiros aglomerados urbanos do Brasil foram formados principalmente por pessoas que vieram das áreas rurais, negros, trabalhadores rurais e indígenas. Mais recentemente, no início da segunda parte do século XX, aconteceu o processo conhecido como êxodo rural, no qual milhares de famílias de agricultores saíram do campo para a cidade devido ao processo de modernização agrícola que diminuiu os empregos e fez com o que muitos camponeses perdessem suas terras. O êxodo rural aumentou a densidade populacional das periferias (AGUIAR, 2011; PAPINI, 2012).
No Brasil, pelo fato de grande parte da população das periferias terem origem e descendência de áreas rurais o desenvolvimento da agricultura urbana ou periurbana é um fenômeno comum. A agricultura urbana pode ser definida de maneira simples como o cultivo de vegetais e(ou) a criação de animais domésticos dentro dos limites da cidade ou em sua periferia (MACHADO; MACHADO, 2005). A criação animal nas cidades não é um fenômeno novo, na verdade faz parte da origem dos aglomerados urbanos, não apenas nos trópicos, mas em todas as regiões do planeta (SCHIERE, TEGEGNE, VAN VEENHUIZEN, 2000).
A Forragicultura é a ciência que estuda as plantas forrageiras, que são plantas que apresentam potencialidade para a alimentação animal. A utilização de plantas forrageiras para alimentação animal na forma de pastos e capineiras é importante por proporcionar uma alimentação mais próxima do comportamento natural dos animais e por ser mais econômica para a produção animal (SILVA, 2014).
O Brasil é um país que apresenta um grande território e um clima que favorece o crescimento de plantas herbáceas, principais plantas usadas nas atividades rurais. As pastagens naturais podem ser uma opção para a alimentação dos animais, no entanto, carecem de maior eficiência na produção, que se dá, principalmente, através cultivo de plantas mais adaptadas ao clima da região e melhoria nas condições da fertilidade do solo. Nesse sentido possibilita a introdução de plantas forrageiras mais produtivas, permitindo aumentar a produtividade do pasto ou campineira (ALMEIDA JUNIOR et al., 2014).
A importância da Educação e Extensão Universitária ganha muita força com a constituição de 1988, quando nela é declarada o direito universal à Educação, e sobre a estrutura indissociável na Educação entre Ensino, Pesquisa e Extensão (BRASIL, 1988). A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, em seu artigo 43, coloca a Extensão Universitária como uma das finalidades da Universidade (BRASIL, 1996). A resolução do Conselho Nacional de Educação nº 07/2018, formaliza a importância da Extensão Universitária na formação profissional com a proposta de sua curricularização, na qual 10% da carga horária dos cursos de graduação terão que ser constituídos por projetos de Extensão Universitária (BRASIL, 2018).
Somasse ao exposto a escassez de estudos sobre a pecuária urbana e principalmente sobre as características da alimentação dos animais criados na cidade. Diante do exposto, objetivou-se com o presente relato de experiência, descrever e refletir sobre uma experiência de ação de extensão universitária vinculada a disciplina de Forragicultura e Plantas Nativas realizada em uma pecuária urbana na cidade de Cabedelo, Grande João Pessoa, Paraíba, Brasil.
Material e métodos
Contexto
O presente estudo trata-se de um relato de experiência sobre uma ação extensionista desenvolvida por um grupo de estudantes na disciplina de Forragicultura e Plantas Nativas. Esta disciplina foi ofertada no 3º período, no turno noturno, durante os meses de fevereiro à junho de 2024, no curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário UNIESP, localizado no munícipio de Cabedelo, Paraíba.
A ação extensionista foi realizada no contexto da pecuária urbana, em uma criação de animais agrícolas no município de Cabedelo, Paraíba, Brasil. A ação extensionista foi dividida em duas etapas: a primeira composta por um diagnóstico local e a segunda por uma ação de intervenção.
Diagnóstico local
A realização do diagnóstico local foi desenvolvida com base no protagonismo do criador. Essa proposta é originada da perspectiva crítica de Paulo Freire sobre Extensão Rural, na qual o autor intitula de Comunicação Rural, criticando a ação de estender o conhecimento do técnico para o agricultor, e propondo a comunicação entre ambos, um reconhecendo a cultura e técnica do outro (FREIRE, 1979).
Outra técnica que foi utilizada durante a visita para o diagnóstico local foi a da Observação Não-Participante (MARIETTO, 2018), na qual permitiu que os estudantes observassem elementos sobre o contexto, pessoas, diálogos, animais, manejos, plantas forrageiras etc. presentes no território e na pecuária urbana visitada.
A etapa do diagnóstico local foi iniciada com o processo de articulação com o criador, que ocorreu através de contato telefônico realizado no dia 06 de março de 2024, com o objetivo de apresentar ao criador o desejo de conhecer e sua propriedade e realizar o projeto de extensão na mesma. Em seguida foi realizada a visita a criação, no dia 10 de março de 2024, com a finalidade de desenvolver um diagnóstico sobre aspectos sociais e de aspectos produtivos, principalmente ligados ao manejo alimentar e utilização das plantas forrageiras.
Durante a visita para o diagnóstico, o criador foi o principal facilitador, sendo fundamental para os estudantes conhecerem mais detalhes da realidade social da família e manejos realizados na criação. A visita teve o seguinte roteiro: a) Diagnóstico social: história do criador e família, trabalho, renda e cultura; b) Diagnóstico produtivo: características do sítio, espécies de animais, quantidades etc.; e c) Diagnóstico alimentar e plantas nativas: características do manejo alimentar, capineiras, pastos e utilização de plantas forrageiras.
No dia visita foi realizada a leitura e entrega ao criador de uma Carta de Apresentação contendo uma apresentação sobre a ação extensionista da disciplina de Forragicultura e Plantas Nativas.
Intervenção
Após o diagnóstico, foi construída uma proposta de intervenção a fim de propor sugestões e melhorias para o criador que possam ser aplicadas em sua propriedade para viabilizar a aumentar a quantidade e qualidade da forragem produzida, assim como informações voltadas à saúde e bem-estar dos seus animais. A proposta de intervenção escolhida pela equipe foi o desenvolvimento de um material de audiovisual com base na realidade encontrada durante o diagnóstico.
Resultados e discussão
O criador tem 54 anos e mora com sua esposa na área da criação, que fica no bairro do Renascer, município de Cabedelo, Paraíba, Brasil. O criador relatou que exerce a ocupação de agricultor e pecuarista há mais de 50 anos. Ele concluiu o ensino médio, se formando no curso de Magistério, trabalhando por alguns anos como professor da educação infantil. Atualmente, além da pecuária, o criador atua como porteiro de um residencial localizado na cidade vizinha, João Pessoa, Paraíba, Brasil. O criador falou que considera o trabalho como porteiro sua principal atividade, e a pecuária sua atividade secundária.
Em relação aos aspectos sociais, Lima et al. (2023), em pesquisa sobre a caracterização de criadores urbanos de bovinos no município de João Pessoa-PB, identificaram que grande parte dos criadores tinham uma faixa etária entre 46 a 75 anos, a maioria também não era alfabetizada e tinham uma experiência de mais de 20 anos no segmento. Barbosa Junior et al. (2022) em pesquisa com criadores de ruminantes em assentamentos rurais em Pernambuco, verificaram uma faixa etária média de 52,3 anos e baixa escolaridade, com grande parte dos criadores possuindo ensino médio incompleto ou sem acesso a escola. Os dois estudos apresentam realidades semelhantes no quesito idade a condição do criador participante do presente relato, porém no quesito escolaridade os dois estudos são discordantes da realidade aqui apresentada, pois o criador do presente projeto apresentou ensino médio completo.
O criador relatou ao grupo que a atividade da pecuária na área urbana é muito mais difícil por características da área, por não ter espaço para os animais viverem e se alimentar e pelo preconceito com a atividade. Relatou ainda que só permanece com a criação devido ao grande amor que tem pela atividade e pelos animais. Quem lhe ajuda no dia a dia com a criação animal é sua esposa. Ele e sua esposa acreditam que o custo supera a receita das vendas de leite, queijo e ovos, logo, ele não possui lucro efetivo com sua produção, mas permanece por gostar muito da lida com os animais.
O terreno da propriedade mede em torno de 3.000 m². A propriedade tem como segmento principal a bovinocultura de leite, com o rebanho composto por cinco vacas quatro bezerros e um macho reprodutor. A produção média de leite é de 40 litros por dia, sendo a ordenha realizada de forma manual. Na propriedade ainda tem três equinos para trabalho e lazer, além suínos e aves.
A cidade de João Pessoa, capital da Paraíba e cidades vizinhas cresceram e se desenvolveram com a presença dos bovinos, assim como as cidades do interior do estado. Duas características diferentes nesse processo: a primeira relacionada ao aspecto fundiário, nas cidades litorâneas as propriedades eram de pequenos e médios tamanhos, enquanto no sertão as propriedades eram de grandes proporções. E a outra questão era relacionada ao objetivo da criação, enquanto nas cidades litorâneas eram destinadas a produção leiteira, no sertão, a produção era de carne (MAIA, 2005).
A criação animal na cidade de João Pessoa-PB teve uma crescente na década de 1980 e 1990 com a migração de pequenos criadores do interior do estado para a capital. Esses criadores enfrentaram várias dificuldades para permanecer nas áreas, dentre elas: aumento do número de residências, diminuindo a área de pasto dos animais; construção de padarias e mercadinhos, dificultando a venda dos seus produtos; além disso, o constante aumento dos preços de ração e alimentos que suplementam a alimentação dos seus animais (MAIA, 2005).
A forte relação com os animais agrícolas também foi percebida no estudo de Barbosa Junior et al. (2020), no qual os autores analisam a relação de camponeses com a criação de bovinos, em assentamentos rurais no estado de Pernambuco. No estudo os principais motivos para os camponeses criarem os bovinos foram: renda, afeto, ciclagem de nutrientes, solidão, sobrevivência e permanência na terra. O criador que participou do projeto relatou que o que faz continuar com a criação de animais é o sentimento de “gostar”, “amar”, mas foi perceptível a importância do trabalho com os animais para enfrentar a solidão e para a sobrevivência do criador e de sua esposa durante a visita.
O problema enfrentado pela pecuária urbana com o avanço da urbanização foi descrito no estudo de Ruas et al. (2014), no qual realiza um estudo de caso de uma família que trabalha com a criação de animais agrícolas no município de Castanhal-PA. Os autores relatam a dificuldade que a família enfrenta na medida que o processo de urbanização avança na cidade. Na medida que cresce o número de casas, prédios e asfalto, aumenta o preconceito dos moradores em relação ao trabalho da família, como também a atuação autoritária do poder público com ordenação da retirada dos animais da área urbana e nenhum apoio para melhorias ou adequações da pecuária urbana.
Maia (2005) em estudo sobre a permanência da cultura rural no cenário da pecuária urbana de João Pessoa-PB, descreve uma situação na qual um criador precisou mudar de endereço devido a especulação imobiliária. Essas situações são semelhantes as vivenciadas pelo criador do presente relato de experiência, que já precisou mudar de um bairro para outro devido a crescente urbanização e aumento de conflitos com os moradores do endereço anterior.
O criador demostrou sua forma de realizar a escrituração zootécnica, que foi a partir de anotações em caderno sobre a produção de leite, montas controladas, nascimento de todos os animais, gastos com os suínos e produção de ovos pelas galinhas. O criador relatou que não tem acesso a programas de assistência técnica ou defesa agropecuária pelo poder público. O criador relatou que conseguiu adquirir a vacina de febre aftosa por conta própria.
O criador mostrou ao grupo uma área de implantação de capineiras com plantação de alguns cultivares do capim elefante (Pennisetum purpureum), sendo elas: Roxo, BRS Capiaçu, Mineirão e Gramafonte. Para complementar a alimentação dos animais, o criador compra abacaxi, mandioca e cana-de-açúcar. Também compra farelo de milho, farelo de soja, cevada, torta de algodão e núcleo proteico. A base da alimentação das aves e suínos da criação é proveniente de restos de comidas e de hortaliças, subproduto conhecido como “lavagem”, e milho em grãos, este último sendo comprado no mercado.
Com relação a assistência técnica, os resultados encontrados na literatura científica foram semelhantes ao do presente relato de experiência. Lima et al. (2023) verificaram que mais de 70% dos criadores urbanos de bovinos de João Pessoa-PB não recebiam nenhum tipo de assistência técnica. Resultado semelhante ao estudo de Barbosa Junior et al. (2022), no qual 65,9% dos criadores de ruminantes em assentamentos rurais de Pernambuco também não recebiam nenhum tipo de assistência técnica.
Maia (2005) verificou que as pecuárias urbanas em João Pessoa-PB estão localizadas principalmente em áreas intraurbanas, próximas a rios, e em áreas periurbanas, nas margens da cidade. A produção principal era da bovinocultura de leite, e de forma secundária existiam criações de equinos, suínos, aves, caprinos e ovinos. Realidade idêntica a observada na propriedade do criador urbano em Cabedelo-PB.
Lima et al. (2023) e Barbosa Junior et al. (2022) verificaram que a maioria dos criadores de seus estudos trabalhavam com o sistema de criação no modelo semi-extensivo, no qual o animal passa parte do dia solto em pastos e outra parte na cocheira, O manejo alimentar verificado no estudo de Barbosa Junior et al. (2022) tinha como base os capins braquiária (Brachiaria sp.), elefante (P. purpureum) e colonião (Panicum maximum) e utilização de casca de macaxeira, milho, farelo de milho, cana-de-açúcar, ração concentrada e farelo de biscoito.
Maia (2005) observou que em relação as plantas forrageiras existiam dois manejos principais: o primeiro era o manejo do pastoreio, no qual o criador levava seus animais para pastar em terrenos baldios ou pastagens em áreas no interior ou nas margens da cidade durante o dia; e o segundo que era baseado na apanha de capins em terrenos baldios ou em capineiras próprias, para serem cortados e fornecidas aos animais na cocheira durante a noite. Um manejo complementa o outro.
O acesso a pastos e capineiras em quantidades e qualidade é um dos principais desafios para a pecuária urbana, devido principalmente a aspectos de limites espaciais de áreas urbanizadas. Aquino e Monteiro (2005) apresentam como potencialidade para alimentação animal no contexto urbano a utilização de resíduos orgânicos provenientes de supermercados, feiras, restaurantes etc., constituídos principalmente por restos de alimentos domésticos, hortaliças, verduras e frutas.
O sistema de criação encontrado na literatura foi o semi-extensivo, diferente do implementado pelo criador urbano que era sistema de criação intensivo, no qual os animais passam todo o tempo na cocheira, principalmente por limitação do espaço na propriedade e falta de local para os animais pastarem. No manejo alimentar foi observado algumas espécies de gramíneas diferentes, braquiária e colonião, e a utilização do farelo de biscoito.
A proposta de intervenção foi produzir um material educativo, em formato de vídeo, focando na otimização das melhores plantas forrageiras específicas no contexto de sua criação, para que o proprietário possa fornecer mais nutrientes, sem elevar o custo da produção. A entrevista foi gravada no dia 22 de abril, contando com a participação de um profissional zootecnista e teve uma duração de aproximadamente 15 minutos.
Na entrevista foram abordados os tipos de plantas forrageiras mais indicados para a utilização do criador em seu contexto urbano e com pouco espaço. O profissional zootecnista destacou o cultivar BRS capiaçu, por ser uma planta mais volumosa e de maior produção do que as demais. Chamou a atenção para a adubação da capineira com o próprio adubo produzido na criação, com a finalidade de melhorar a produção do capim.
Durante a entrevista, o zootecnista, chamou a atenção para a implantação de algumas espécies de leguminosas, que são plantas forrageiras de alto valor proteico, que ajudariam dessa forma na qualidade da alimentação dos animais. As leguminosas sugeridas foram a gliricídia (Gliricidia maculata) e a moringa (Moringa oleífera). Podendo, inclusive, usá-las como cerca viva. Ele frisou, no entanto, que essas são plantas secundárias, nutritivas, mas não devem ser utilizadas como fonte primária de alimentação, e sim como suplementação.
Para os suínos, o zootecnista sugeriu que fosse realizado um balanço de preço, da venda dos animais e que eles fossem alimentados com ração comercial ou com farelos de milho e soja. Para que dessa foram os animais engordassem mais e mais rápido. A orientação em relação as aves foi uma alimentação baseada em milho, capim e leguminosas.
No dia 29 de abril de 2024 foi realizado a segunda visita ao criador, com o objetivo de apresentar de realizar a intervenção, com a apresentação do vídeo, entrega de sementes das plantas sugeridas no vídeo, Pennisetum purpureum cv. BRS capiaçu, gliricídia (Gliricidia maculata) e da moringa (Moringa oleífera).
A ação extensionista vivenciada concorda com os ensinamentos de Freire (1979) ao criticar o formato vertical da extensão rural tradicional. O diagnóstico local foi construído a partir de uma visita onde o criador urbano teve um papel de facilitador, apresentando sua história, sua cultura e suas experiências, e a partir dessa realidade apresentada e das demandas originadas é que foi construído o roteiro da entrevista. O diálogo construído com o profissional zootecnista e os estudantes foram baseadas no contexto histórico e social do criador e nas demandas de sua criação.
Considerações finais
Diante do exposto, foi observado, que devido ao crescimento acelerado da população, as cidades acabam absorvendo lugares que outrora eram considerados como zona rural e, assim, muitas propriedades rurais passaram a estar localizadas agora em zonas urbanas. Essas mudanças trazem prejuízos para o proprietário, diminuindo á área para a criação, para o pastoreio, cultivo das plantas forrageiras, o clima e o ambiente mudam ocasionando aumento do número de pragas e desfavorecendo o crescimento das plantações. Ademais, como observado em campo, a localidade não possui área de pastagem, sendo criados em confinamento intensivo, ou seja, confinados sempre, sem haver períodos do dia em que realizam a pastagem.
Portanto, observa-se que o criador urbano que participou da experiência não dispõe de recursos financeiros suficientes e muito menos de ajuda financeira e estratégias do poder público que o ajude em melhorias em sua propriedade. Testemunhamos as dificuldades, bem como, tristeza por tal situação. É necessário intervenções urgentes que objetive a melhoria de vida de criadores e criação em zonas urbanas, porém sem custo para o proprietário, e que sejam possíveis de serem realizadas.
Conflitos de interesse
Não houve conflito de interesses dos autores.
Contribuição dos autores
Juliana Karla Quirino Ramalho, Anuska Alves Coutinho Lins, Beatriz Cantalice de Melo, Jacyara de Souza Fernandes, Janine Miranda de Oliveira Tillmann, Luís Fábio Barbosa Botelho e Sara Morais Pordeus – articulação com o criador, visita para o diagnóstico local, produção da intervenção e escrita; Henrique Melo de Oliveira – auxílio no diagnóstico local, produção na intervenção e escrita; Maiza Araújo Cordão e Sebastião André Barbosa Junior – orientação para o diagnóstico local e intervenção, correções e escrita final.
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Recebido em 21 de novembro de 2024
Retornado para ajustes em 12 de março de 2025
Recebido com ajustes em 12 de março de 2025
Aceito em 17 de março de 2025
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