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Diferentes substratos sobre a germinação de sementes de Açaí nas Regiões Norte e Nordeste do Brasil

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Revista Agrária Acadêmica

agrariacad.com

doi: 10.32406/v7n1/2024/53-62/agrariacad

 

Diferentes substratos sobre a germinação de sementes de Açaí nas Regiões Norte e Nordeste do Brasil. Different substrates on the germination of Açaí seeds in the North and Northeast Regions of Brazil.

 

Ana Paula Braz Garcia1, Victor Manoel Alves Carvalho2, Antonio de Oliveira Louro2, Anatércia Ferreira Alves3

 

1- Especialista em Recuperação de Áreas Degradadas, Universidade Estadual da Região Toccantina do Maranhão – UEMASUL, Campus Imperatriz.
2- Graduando em Engenharia Agronômica, Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão, UEMASUL, Campus Imperatriz.
3- Doutora em Fitotecnia – Biotecnologia e Melhoramento de Plantas. Docente  no Centro de Ciências Agrárias, Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão – CCA/UEMASUL, Imperatriz – MA. E-mail: anaterciaa@yahoo.com.br

 

 

Resumo

 

A grande procura pelos produtos oriundos da cultura do açaí tem motivado os produtores ao seu cultivo comercial. Todavia, a produção de frutos de açaizeiro (Euterpe) nas Regiões Norte e Nordeste do Brasil ainda advém praticamente do extrativismo. Logo, o objetivo deste trabalho foi verificar a eficiência dos diferentes substratos utilizados para a germinação de sementes de açaí, no período de 2011 a 2021, a partir de um levantamento bibliográfico e identificar o substrato que garanta melhores condições para o processo germinativo da semente e que seja de fácil aquisição. Assim, foram identificados pelo uso e a inclusão de diferentes composições, com destaque na rapidez de germinação, taxa de germinação, densidade, porosidade, aeração e sensibilidade a luz, temperatura e umidade. Após a análise da literatura, ficou evidente que o substrato que apresentou as melhores condições para o processo germinativo da semente de açaí e que é mais acessível ao produtor, é a terra preta, caroço triturado e esterco bovino. Este material é amplamente utilizado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA, onde apresentou melhores resultados, com ótima germinação, além de custo reduzido para a sua aquisição.

Palavras-chave: Euterpe oleracea Mart. Adubação. Desenvolvimento de plantas. Produtividade.

 

 

Abstract

 

The great demand for products from açaí cultivation has motivated producers to cultivate it commercially. However, the production of açaí fruits (Euterpe) in the North and Northeast Regions of Brazil still comes practically from extractivism. Therefore, the objective of this work was to verify the efficiency of the different substrates used for the germination of açaí seeds, from 2011 to 2021, based on a bibliographical survey and identify the substrate that guarantees better conditions for the seed germination process and that is easy to acquire. Thus, they were identified by the use and inclusion of different compositions, with emphasis on germination speed, germination rate, density, porosity, aeration and sensitivity to light, temperature and humidity. After analyzing the literature, it became evident that the substrate that presented the best conditions for the germination process of the açaí seed and that is most accessible to the producer, is black soil, crushed seeds and cattle manure. This material is widely used by the Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA, where it showed better results, with excellent germination, in addition to reduced acquisition costs.

Keywords: Euterpe oleracea Mart. Fertilizing. Plant development. Productivity.

 

 

Introdução

 

O açaizeiro (Euterpe oleracea), conhecido popularmente como açaí-de-touceira, por conter mais de um estipe é uma espécie nativa da Amazônia, encontrada, principalmente, em terrenos de várzea no estuário de rios. Têm como principais produtos o fruto açaí, e o palmito que é extraído no final da via útil da planta (SANTOS, 2021; SILVESTRE et al., 2016).

A produção brasileira de frutos de açaí é concentrada em 92,1% nos estados da Região Norte, com destaque ao Pará que ocupa a 1° posição, considerado o maior produtor. Em 2019, o estado do Pará produziu cerca de 1,3 bilhões de toneladas de frutos frescos, sendo colhidos em 188 mil ha, e rendimento médio de 7 t ha-1 (IBGE, 2019) e existe ainda a previsão de 50% de crescimento desse mercado nos próximos anos (GADELHA, 2018).

O fruto açaí vem ganhando espaço no mercado com sua comercialização em expansão, o que antes era considerado um produto da alimentação básica das populações ribeirinhas e das camadas de baixa renda (SANTOS, 2021), o qual era até então, uma produção basicamente extrativista e destinada mercados locais (SOUSA, 2011). Hoje o açaí ganhou novas fronteiras de mercado, em decorrência do seu valor nutricional, composto em fibras, fenóis e antocianinas que estão associadas à prevenção de doenças cardiovasculares (SOUSA, 2011; YAMAGUCHI et al., 2015), alcançando mercados internacionais, especialmente os Estados Unidos da América, União Europeia, Japão e América Latina (RIBEIRO, 2016).

No Estado do Pará, o açaizeiro se destaca por contribuir principalmente na movimentação da economia, sendo responsável pelo provimento de 95% do fruto no país, além de produzir mais de 1,2 milhão de toneladas do fruto por ano, o que representa US$ 1,5 bilhão injetados na economia paraense, de acordo com dados do Sindicato das Indústrias de Frutas e Derivados (SINDFRUTAS, 2021).

A competitividade do mercado mundial está cada vez maior. Sendo assim, é necessário reduzir os custos de produção, aumentar a produtividade e proteger o meio ambiente em todos os setores agrícolas (SANTOS, 2021). Nessa perspectiva, a produção de mudas, garante um maior retorno econômico ao produtor, devido à segurança produtiva e menor custo de implantação que esta técnica proporciona, uma vez que o período que a muda se encontra no viveiro é imprescindível no que se refere a comercialização de uma determinada cultura, resultando então na obtenção de plantas com melhor desempenho no campo (ARAÚJO, 2019). De acordo com Brandão et al. (2015), escolha de plantas saudáveis consequentemente resulta em um bom desenvolvimento inicial e agilidade na produção.

Nas regiões Norte e Nordeste, existe uma certa dificuldade para encontrar substratos comerciais e os poucos existentes no mercado apresentam um custo elevado em decorrência do deslocamento do local de sua produção até o consumidor final, contribuindo para a elevação do custo da confecção das mudas. Atualmente, não é possível encontrar sugestões de substratos específico para o Euterpe precatoria, conhecido como o açaizeiro solteiro, por conter somente um estipe. Logo, a produção de mudas desta espécie é baseada em estudos para o açaizeiro-de-touceira, apesar de que cabe ao mesmo gênero, porém com características ecofisiológicas diferentes (ARAÚJO, 2019).

Assim, compreende-se que a produção de mudas é extremamente importante para uma elevada exploração agrícola. Consequentemente, a escolha do melhor substrato influencia diretamente no desenvolvimento de plantas saudáveis, influenciando diretamente nas características físicas e químicas que contribuem tanto o crescimento, quanto a produção (MAGGIONI et al., 2014). Nesse sentido, surge a necessidade de produzir mudas de açaí com qualidade, bem como buscar ferramentas que possam auxiliar na germinação, na redução do tempo em viveiro e no bom desempenho no campo, resultando então em retornos econômicos consideráveis (BARBOSA et al., 2003).

Desta forma, este trabalho buscou verificar a eficiência dos diferentes substratos utilizados para a germinação de sementes de açaí, no período de 2011 a 2021 nas Regiões Norte e Nordeste do Brasil, a partir de um levantamento bibliográfico e identificar um substrato que garanta melhores condições para o processo germinativo da semente de açaí que seja de fácil aquisição e com custo acessível ao pequeno, médio e grande produtor.

 

Material e métodos

 

O estudo em questão caracteriza-se como uma pesquisa bibliográfica do tipo descritiva e qualitativa, que verificou estudos divulgados no período de 2011 a 2021, dentro das Regiões Norte e Nordeste do Brasil, sobre a relevância de diferentes substratos utilizados para a germinação de sementes de açaí.

A coleta de informações teve início em novembro de 2021 até janeiro de 2022. O levantamento bibliográfico foi composto a partir de materiais publicados em livros, revistas, jornais e artigos científicos.  Para isso, foi importante fazer um levantamento bibliográfico sobre os diversos tipos de substratos, bem como, analisar as melhores condições para o processo germinativo da semente de açaí e com isso, sugerir um material que garanta qualidades, sendo acessível para o pequeno, médio e grande produtor.

O critério utilizado foi a inclusão de estudos de diferentes substratos com diferentes composições, com destaque na rapidez de germinação, taxa de germinação, densidade, porosidade, aeração e sensibilidade a luz, temperatura e umidade, com o intuito de sugerir um material que garanta melhores condições para o processo germinativo da semente de açaí, e que possa ser acessível para o pequeno, médio e grande produtor (Tabela 1).

 

Tabela 1 – Trabalhos encontrados sobre a pesquisa.
Autor
Substrato utilizado
Variável analisada
FERREIRA et al., 2011
Areia; vermiculita; terra preta; fibra de coco; serragem
Porcentagem de germinação e maior desenvolvimento vegetativo
HONORIO et al., 2017
Substrato Bioplant; casca de arroz carbonizada; areia; esterco de boi
Tempo inicial, tempo final, germinação, velocidade de emergência
GUILHERME et al., 2018
Substrato Mecplant; vermiculita; casca de Castanha-do-Brasil triturada; areia; pó de serra
Velocidade de emergência e massa seca total
ARAÚJO et al., 2021
Casca de Castanha-do-Brasil; casca de cupuaçu, caroço de acerola, caroço de açaí e substrato comercial
Altura da planta, diâmetro de colo, relação altura-diâmetro, número de folhas
CARVALHO et al., 2021
Substrato da agroindústria de processamento de polpa (à base de caroços de açaí, acerola, cajá, cascas de amêndoa de Castanha-do-Brasil e de cupuaçu; substrato comercial Vivatto
Altura da planta, diâmetro de colo, relação altura-diâmetro, número de folhas
OLIVEIRA et al., 2021
Esterco de boi; areia; pó de serra
Densidade, capacidade de retenção de água, pH e condutividade elétrica

 

Com base nas informações coletadas na tabela 1, foram avaliados seis (6) experimentos com diferentes composições. Dentre eles, somente um (1) atendeu as características consideradas melhores para um bom desenvolvimento germinativo da semente do açaí.

As informações da pesquisa foram apresentadas em resultados e discussão quanto a eficiência e recomendação do substrato em forma de tabelas.

 

Resultados e discussão

 

A Floresta Amazônica é caracterizada pela sua alta diversidade biológica, tanto animal como vegetal. Dentro dessa diversidade se destaca um grupo muito particular de plantas da família Arecaceae denominadas popularmente de “palmeiras”, as quais além do potencial alimentar são também fornecedoras de óleos, gorduras, essências, ceras bálsamos, resinas e uso paisagístico. Grande parte das espécies de palmeiras do gênero Euterpe ocupa regiões consideradas quentes e úmidas, sendo raras as de regiões secas e frias. Portanto, são plantas de climas tropicais, geralmente ocupando áreas interioranas e costeiras, inclusive grandes altitudes em alguns países (SODRÉ, 2005; GAMA, 2012).

Segundo o IBGE (2019), a exploração extrativista está em torno de 220 mil toneladas de frutos por ano, sendo 64,5% desse total proveniente do Pará, Estado onde a espécie tem grande ocorrência natural.

Ainda segundo IBGE (2019) os principais Estados produtores de frutos do açaí no norte e nordeste do Brasil são Pará, Maranhão, Acre, Amazonas, Amapá, Rondônia, Bahia e Tocantins (Figura 1). Sendo o Estado do Pará o maior produtor de açaí (1.274.056 t), seguido do Estado do Amazonas com 52 mil toneladas. O Estado do Maranhão aparece em último lugar no ranking.

 

Figura 1 – Os principais Estados produtores de fruto do açaí no norte e nordeste do Brasil. Fonte: Os autores.

 

O Estado do Pará representa 95% de toda produção nacional (SINDFRUTAS, 2021). São quase 50 empresas comercializando o fruto para outros Estados, representando mais de 1,2 milhão de toneladas do fruto. Esse montante chega a injetar na economia paraense algo em torno de US$ 1,5 bilhão, porém, esse valor é equivalente a apenas 3% do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado, segundo dados fornecidos pelo Sindicato das Indústrias de Frutas e Derivados (SINDFRUTAS, 2021).

O Amazonas, apesar de segundo maior produtor do Brasil, ainda fica muito atrás do Pará, que sozinho responde por cerca de 90% de toda a produção brasileira. Isso ocorre devido a logística por ser mais complexa e acaba influenciando de forma negativa sobre a cadeia (IDESAM, 2021).

Já os cultivos nos demais Estados no ranking, a produção do açaí plantado é pouco expressiva, quando comparado aos Estados do Pará e Amazonas, sendo explorado predominantemente por pequenos e médios açaicultores com poucas tecnologias, como comunidades ribeirinhas e produtores do açaí na Região. Enquanto o Maranhão aparece em último lugar no ranking, com produção de 120 toneladas (Figura 1).

A expansão do mercado do fruto do açaí acontece principalmente a partir da década de 1990. O crescimento do mercado de polpa de açaí, induzido pelo processo de beneficiamento e congelamento aumentou o consumo local, antes restrito ao período da safra. Com uma grande demanda nacional a atividade de extração e transformação se modificou, a prática artesanal de amassar e coar na peneira o açaí foi substituído por batedeiras elétricas e, atualmente, por modernas máquinas industriais de processamento dessa fruta (COSTA; SIMÕES, 2013).

Além da grande demanda do açaí no Estado do Pará, o fruto também tem sido destinado para outras regiões do país, dentre elas pelos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. Ao mesmo tempo que também passou a ser exportado para os principais mercados consumidores internacionais do NAFTA, União Europeia, Tigres Asiáticos e MERCOSUL (FALESI et al., 2010; SOUSA, 2011).

Existem programas de apoio ao desenvolvimento da Cadeia Produtiva do Açaí no Estado do Pará (Pró-Açaí) e o Pará 2030, criados em 2016 com a finalidade de aumentar a produção e melhorar a produtividade da cadeia através de ações como a incorporação de tecnologia ao processo produtivo (COELHO et al., 2017; SEDAP, 2016). Essas inciativas, além de melhorarem a eficiência da cadeia, refletem em vantagens diretas para população local como a criação de empregos e fortalecimento da agricultura familiar (COELHO et al., 2017) e ajudam a manter a floresta em pé (TEIXEIRA, 2018). Garcia e Vieira (2014) e Thurlow, Dorosh e Davis (2019), reforçam esses benefícios ao afirmarem que o agronegócio é uma alternativa para a redução da pobreza, desigualdade social e geração de novos empregos (LUZ et al., 2021).

Referente a eficiência dos usos de substratos utilizados para o processo germinativo da semente, a Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuária – EMBRAPA, faz o uso de substratos formados com areia e pó de serragem na proporção volumétrica de 1:1 em sementeiras, já em sacos de polietileno é utilizado 60% de solo, 20% de esterco e 20% de pó de serra ou a proporção 3:1:1, sendo mais utilizados pelos produtores de açaí, pois garantem uma semeadura de boa qualidade utilizando materiais ricos em matéria orgânica, retirados da própria mata. Paralelamente a isso o uso do recipiente adequado ajuda na formação da muda (OLIVEIRA et al., 2002).

Oliveira et al. (2021), ao analisarem o desenvolvimento de mudas de açaí, através do substrato composto por 20% esterco, 20% de pó de serragem e 60% solo, o mesmo sugerido pela EMBRAPA, o qual denominou de padrão Embrapa, o outro formado por 20% areia, 20% de esterco e 60% de substrato comercial e o terceiro substrato formado por 20% de areia, 20% de esterco e 60% de solo, onde obtiveram dados de altura das mudas, diâmetro do caule, número de folhas, massa de matéria fresca e seca e índice relativo da clorofila e realizou-se análises nos substratos para a determinação da densidade, capacidade de retenção de água, pH e condutividade elétrica (Tabela 2).

 

Tabela 2 – Dados médios das variáveis avaliadas por Oliveira et al. (2021).
Variáveis
T1
T2
T3
Altura
39,63
41,87
46,00
Diâmetro de colo
11,84
13,51
14,09
Nº de folha
9,00
10,0
10,00
Clorofila
40,74
46,67
47,26
Densidade
134,0
47,0
146,00
Capacidade de retenção de água
48,0
31,00
40,00
pH
6,2
3,3
5,81
Condutividade elétrica
0,81
1,08
0,91

 

Dessa forma, chegou-se à conclusão de que os substratos apresentaram resultados semelhantes, possibilitando o uso de qualquer um deles, de acordo com a facilidade de obtenção, sendo que o tratamento que utilizou o substrato padrão apresentou melhor desenvolvimento.

Araújo et al. (2021), ao analisar a produção de mudas de açaizeiro solteiro em substratos à base de casca de Bertholletia excelsa (Castanha-do-Brasil), casca de Theobroma grandiflorum (cupuaçu), caroço de Malpighia emarginata (acerola) e caroço de açaí e um substrato comercial, apontou maiores valores nas variáveis de relação altura-diâmetro (2,36) e altura (20,67) na composição de substrato comercial com casca de Castanha-do-Brasil. E a composição Castanha-do-Brasil, caroço de acerola mais o substrato comercial apresentou maior valor nas variáveis de altura (21,66) e diâmetro de colo (10,27). E de acordo com Dutra et al. (2015), um bom desenvolvimento do diâmetro do colo, proporciona um equilíbrio no crescimento, pois ocorre maior deslocamento de água e nutrientes para a parte aérea, os quais são importantes para o crescimento vegetativo e ganho de massa. Dessa forma sendo os mais indicados por proporcionarem mudas mais desenvolvidas.

Segundo Silva et al. (2019), que também fez o uso de substrato à base de Castanha-do-Brasil, identificou bons resultados no crescimento inicial de mudas de açaizeiro solteiro (Euterpe precatoria Mart.), pois acredita-se que a castanha é um adubo de liberação lenta, o que gera melhores características morfológicas à muda (ARAÚJO et al., 2021).

Carvalho et al. (2021), analisou diferentes tipos de substratos e doses de adubo de liberação lenta na formação de mudas de açaí-solteiro. Em seis substratos, sendo cinco oriundos da agroindústria de processamento de polpa (à base de caroços de açaí, acerola, cajá, cascas de amêndoa de Castanha-do-Brasil e de cupuaçu) e substrato comercial Vivatto, observou que o substrato à base de caroço de acerola e o comercial, proporcionaram às mudas melhores características morfológicas com relação à altura da planta e diâmetro de colo. De acordo com Carvalho et al. (2021), isso se dá porque o caroço de acerola é rico em nitrogênio e potássio e ainda possui uma boa relação carbono/nitrogênio mesmo sem ter passado por um processo de compostagem. Já o substrato que utilizou o caroço de açaí mais a caroço de acerola, apresentou maior número de folhas em relação aos demais.

Ferreira et al. (2011), fez o uso de areia, vermiculita, terra preta, fibra de coco e serragem para a germinação das sementes de açaí-solteiro. E após o início do processo de germinação das plântulas, todos mostraram-se promissores, somente apresentando diferenças na porcentagem de germinação onde a vermiculita apresentou 80% de germinação, seguida respectivamente da fibra de coco com 69,5%, serragem 66,5%, areia e terra preta 66%. No entanto, a terra preta, apesar de apresentar a menor porcentagem de germinação, foi a que apresentou maior desenvolvimento vegetativo.

Honorio et al. (2017), em seu experimento utilizou os seguintes substratos: substrato comercial Bioplant, casca de arroz carbonizada, areia e esterco bovino. Considerando as variáveis de tempo inicial, tempo final, germinação e o índice de velocidade de emergência, o tratamento composto de 50% de esterco bovino + 50% de areia foi o melhor para avaliação de germinação de açaí de touceira, proporcionando maior valor de índice de velocidade de germinação.

Guilherme et al. (2018), ao estudar a influência na germinação dos substratos comercial Mecplant, vermiculita, casca de Castanha-do-Brasil triturada, areia e pó de serra, constataram que os substratos vermiculita, comercial (Mecplant), casca de Castanha-do-Brasil e areia resultaram nos melhores resultados para os índices de velocidade de emergência (IVE) e massa seca total (MST) de plântulas de E. precatoria. Onde a vermeculita apresentou 0,65 de IVE e MST de 0,463. O Mecplant apresentou 0,64 de IVE e 0,452 de MST. Já o IVE da Casca de Castanha foi de 0,67 e MST de 0,438 e a areia teve seu IVE foi de 0,60 e MST de 0,358. Tendo o pó de serra com um dos piores resultados para essas variáveis. Segundo Burés (1997), o que pode estar associado a este resultado é em decorrência de partículas muito pequenas que podem gerar a compactação do substrato, diminuindo então a aeração, além de facilitar a fermentação ácida que interfere no desenvolvimento radicular da plântula.

Diante das análises das informações, é importante salientar que os substratos utilizados na germinação de sementes são fundamentais para o sucesso desta etapa de propagação das plantas. Eles podem influenciar o processo germinativo, favorecendo ou prejudicando fatores como a germinação, a estrutura, aeração, capacidade de retenção de água e grau de infestação por patógenos, que podem variar conforme o substrato utilizado (POPINIGIS, 1977).

No caso da germinação de sementes de palmeiras, recomenda-se que o substrato utilizado deva garantir boa drenagem e ao mesmo tempo, ser capaz de reter umidade. Isso é importante porque substratos que retém pouca umidade ou que ficam excessivamente úmidos por longo período prejudicam as sementes durante a germinação. Da mesma forma, devem-se evitar substratos com partículas excessivamente grandes e com tendência a se quebrar com as irrigações repetidas (MEEROW; BROSCHAT, 2017).

Nesse sentido, o melhor substrato que contribui com a germinação da semente de açaí, nas Regiões Norte e Nordeste, é o indicado pela EMBRAPA, para o estabelecimento de cultivos comerciais, pois possibilita produzir grande número de indivíduos com menor custo, quando comparado com a propagação assexuada. Além disso, a caracterização do clima da Região propõe condições mais adequadas para a produção de mudas para o crescimento inicial em campo, colaborando para o aumento da homogeneidade, sanidade e redução da mortalidade do plantio. Assim, a EMBRAPA fornece um guia que utiliza materiais tirados de ambientes naturais, como o caroço triturados, a terra preta e o esterco de gados, sem altos custos que são importantes para a obtenção de mudas de qualidade.

A escolha do substrato para a produção de mudas de açaí é de suma importância, pois são eles que irão proporcionar um ótimo crescimento e a qualidade das mudas.

 

Considerações finais

 

Os substratos provenientes da agroindústria de processamento de polpa, como a casca de Castanha-do-Brasil, casca do cupuaçu, de cajá, de caroço de acerola, caroço do açaí bem como aqueles a base de vermiculita, fibra de coco, casca de arroz carbonizada e ainda o os demais substratos comerciais, apresentaram um bom potencial para serem utilizados como alternativas na germinação das sementes de açaí, porém necessitam de custos mais elevados para sua aquisição.

Os substratos não estão economicamente acessíveis ao pequeno produtor, quando comparados ao substrato padrão estabelecido pela EMBRAPA, que proporcionam boa germinação, menor custo, forma mudas de boa qualidade e auxiliam na manutenção da biodiversidade e uso sustentável dos recursos naturais.

 

Referências bibliográficas

 

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Recebido em 20 de dezembro de 2023

Retornado para ajustes em 16 de março de 2024

Recebido com ajustes em 18 de março de 2024

Aceito em 27 de março de 2024

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